A
Troca
Pra mim, livro é vida; desde que eu
era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia,
comia e comia; e de barriga
assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu,
cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me
dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas - é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas - é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra - em algum lugar - uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.
Lygia Bojunga
Eu também, desde muito cedo, me
acostumei com essa troca... ainda me lembro do que lia sentada no
colo do meu pai; me lembro das vezes que adormecia lendo; me lembro
de ler coisas incompreensíveis para uma criança, mas mesmo assim
ler pelo prazer de ler... livros, jornais, revistas, tudo me
fascinava...
Depois, na adolescência, a fase dos
romances açucarados: Barbara Cartland, Sabrina, Júlia... tinha
coleções! E podiam me chamar, eu não escutava... estava dentro do
livro, vendo e vivendo as histórias...
Depois veio a faculdade, os
clássicos, o purismo... até descobrir a delícia da leitura de
alguns best sellers: li toda a coleção do Percy Jakson, todos os
romances do Nicholas Sparks, a Martha Medeiros, a Lya Luft e tantos
outros...
Um aluno meu começou a ler gibis,
pegou gosto pela leitura e agora está lendo poesias... e eu fico
encantada em como a leitura pode transformar uma pessoa... parece
que ele cresceu, como a Lygia Bojunga, e agora está derrubando
telhados com a cabeça...
Enfim, leitura é isso: é passear, é
morar no mundo inteiro... em iglus, palácios, arranha-céus ou numa
cabana... não importa onde. O importante é embarcar nesta viagem
rumo ao desconhecido!
Beijos,
com carinho
Isabel
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