domingo, 7 de fevereiro de 2016

A Troca



A Troca

Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.

Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.

E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.

De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.

Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.

Todo dia a minha imaginação comia,
 comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas - é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.

Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra - em algum lugar - uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

Lygia Bojunga


Eu também, desde muito cedo, me acostumei com essa troca... ainda me lembro do que lia sentada no colo do meu pai; me lembro das vezes que adormecia lendo; me lembro de ler coisas incompreensíveis para uma criança, mas mesmo assim ler pelo prazer de ler... livros, jornais, revistas, tudo me fascinava...

Depois, na adolescência, a fase dos romances açucarados: Barbara Cartland, Sabrina, Júlia... tinha coleções! E podiam me chamar, eu não escutava... estava dentro do livro, vendo e vivendo as histórias...

Depois veio a faculdade, os clássicos, o purismo... até descobrir a delícia da leitura de alguns best sellers: li toda a coleção do Percy Jakson, todos os romances do Nicholas Sparks, a Martha Medeiros, a Lya Luft e tantos outros... 

Um aluno meu começou a ler gibis, pegou gosto pela leitura e agora está lendo poesias... e eu fico encantada em como a leitura pode transformar uma pessoa... parece que ele cresceu, como a Lygia Bojunga, e agora está derrubando telhados com a cabeça...

Enfim, leitura é isso: é passear, é morar no mundo inteiro... em iglus, palácios, arranha-céus ou numa cabana... não importa onde. O importante é embarcar nesta viagem rumo ao desconhecido!

Beijos, 

com carinho

Isabel


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