quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quando Amanhecer

Paixão Ardente


O Meu Amor

De ti somente um nome sei: Amor,
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor!

Como de um sonho vago e sem fervor,
nasce assim uma paixão tão inquietante?!
Meu doido coração triste e amante,
Como tu, busca o ideal na dor!

Isto era só quimera, fantasia,
Mágoa de sonho que se esvai num dia,
Perfume leve dum rosal do céu...

Paixão ardente, louca, isto é agora,
Vulcão que vai crescendo hora por hora...
O meu amor, que imenso amor o meu!

 Florbela Espanca  



Eco



Aonde?

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,

Aonde estás, amor? Aonde...aonde...aonde?...

O eco ao pé de mim segreda...desgraçada...

E só a voz do eco, irônica, responde!

Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!

O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;

Parece a tua voz, a tua voz tão linda

Cantando como um rio banhado de luar!

Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!

Esta saudade enorme, esta saudade imensa!

E só a voz do eco à minha voz responde...

Em gritos a chorar, soluço o nome teu

E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:

Aonde estás amor? Aonde...aonde...aonde?...



Florbela Espanca






És Tu!



És Tu!

És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!

Ouço de novo o riso dos teus passos!

És tu que eu vejo a estender-me os braços

Que Deus criou pra me abraçar a mim!

Tudo é divino e santo visto assim...

Foram-se os desalentos, os cansaços...

O mundo não é mundo: é um jardim!

Um céu aberto: longes, os espaços!

Prende-me toda, Amor, prende-me bem!

Que vês tu em redor? Não há ninguém!

A Terra? - Um astro morto que flutua...

Tudo o que é chama a arder, tudo o que sente,

Tudo o que é vida e vibra eternamente

É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!



Florbela Espanca





quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Que Mais eu Posso Te Dar?



Que Mais Eu Posso Te Dar?

Trago-te um ramo de rosas

e um pote de framboesas.
Um pôr do sol depois da chuva
junto com as minhas tristezas.

Que mais eu te posso dar?


Dou-te a relva da campina

ainda fresca e orvalhada.
Te trago a primeira estrela
que nascer na madrugada.

Que mais eu te posso dar?


Dou-te uma salva de prata

cheia de conchas do mar;
um bando de borboletas
...ou um raio de luar?

Que mais eu te posso dar?


Luna


 

Irremediavelmente Tua


Irremediavelmente Tua




Mágico assim, sob a luz da lua
Envolvendo todos os meus silêncios
Apareceste manso e sorrateiro.
Invadindo meus sonhos tão intensos.

Numa serena maré, calma, envolvente,
Deixei-me ir, desejando o mesmo intento.
Hipnotizou-me esse olhar inebriante
Arrastou-me sutilmente mar adentro.

Desenhei-te na noite, te escondi em mim
Nessa ânsia de querer-te mais e tanto
No espaço infinito, entre riso e pranto.

Vem... Que já te sinto aqui em mim 
E vislumbro passos firmes descobrindo
O que já é teu, tomando, possuindo...

Glória Salles






Abrindo as Janelas



Uvas e Sinos



Abre as janelas

as portas
e deixa que entre
o horizonte em jorro
um pedaço de céu
peixes e pássaros
e lágrimas e sonhos.



Deixa que o tempo entre

como guirlanda

que entrem as vozes dos poetas
desde a distante noite
onde as bússolas marcavam o caminho.

Deixa que algum mistério
ponha uvas e sinos
em cima da mesa.


Roseana Murray






terça-feira, 22 de novembro de 2011

Como Nasce Um Poema


Garça

Um poema nasce
como garça se equilibra
na superfície fina
do nada

De que é feito
o espaço que ocupa
de que impalpável matéria
mistério, labareda ou voo?

Um poema nasce
se espraia vertiginosamente
como areia
em direção nenhuma

Em sua frágil arquitetura
o caos se arruma



Roseana Murray




O Olhar


Olhar


O olhar feito cântaro
cheio até a borda
de puro mel.

O olhar como favo
ou quem sabe
uma teia de ternura
abraçando o mundo.

O olhar feito barco
de carregar o outro
até a outra margem,
até um porto seguro.

O olhar feito carruagem macia
de conduzir o outro,
com delicadeza,
pelos labirintos da vida
até seu próprio coração.



Roseana Murray



Pedrinhas de Luz



 Luz


Com pedrinhas de luz

convém marcar o caminho

desde o nascimento
até a última curva,
quando para sempre
o sol se esconde.

Com pedrinhas de luz
convém construir
a casa e os gestos.
Fazer do coração
uma gruta amorosa,
um farol,
a iluminada e leve morada.


Roseana Murray



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amigos


Amigo



No rumo certo do vento,

amigo é nau de se chegar
em lugar azul.
Amigo é esquina
onde o tempo para
e a Terra não gira,
antes paira,
em doçura contínua.
Oceano tramando sal,
mel inventando fruta,
amigo é estrela sempre
no rumo certo do vento,
com todas as metáforas,
luzes, imagens
que sua condição de estrela contém.


Roseana Murray





domingo, 20 de novembro de 2011


"Juntos, parece até que

não faz frio.
Juntos, o mundo fica bem 
melhor!”



Semeando Amor



"...Esbanja o amor à mão-cheia!

Oferece-o,

atira-o pela janela,

espalha-o aos quatro ventos,
esvazia os bolsos
- e terás mais do que tinhas."

Santo Agostinho 




sábado, 19 de novembro de 2011

Do que é Feito o Poema?!


Barulho

Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.

O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura.


Ferreira Gullar




O Que é Poesia?

 
Poesia

Poesia é portal, refúgio ...
Poesia é quarto escuro ..
Poesia é o esconderijo
Secreto da alma.
Poesia é libélula
Garça distraída
Nuvem arisca
Pedra no caminho
Andarilho sem destino
(Poesia é tudo isso que você está sentindo agora...)
Poesia é consolo, afago,
Abraço bem dado
Beijo de amigo.
Poesia é pra você parar,
Pegar um papel
Escrever qualquer coisa
Se sentir melhor
E seguir em frente ...

Nicolas Behr




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Meu Jardim Secreto



Jardim Secreto

No meu jardim secreto
Há um canteiro de alfazemas
Que espalha imenso perfume
Pelo ar

Lá eu me sento à tardinha
Me invento
Ouço o sininho das fadas
Capturo o vento
As nuvens pousam nas folhas
E vejo a vida passar...

Mariza Alencastro



Vontades



Vontade de...



Passear com você na longa estrada
ladeada de pinheiros e horizontes
sentir o vento em louca disparada
levar as nuvens por detrás dos montes

Colher todas as flores do caminho
todas os pinhos , todas as amoras
mudar de rumo, refazer o ninho
trocar um pôr de sol por uma aurora... 

Passear com você bem distraída
por uma tarde ou toda a minha vida...

Mariza Alencastro




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Revoada de Palavras




Voo

Alheias e nossas
as palavras voam.
Bando de borboletas multicores,
as palavras voam.
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Voam as palavras
como águias imensas.


Oh! alto e baixo
em círculos e retas
acima de nós, em redor de nós
as palavras voam.

E às vezes pousam.

Cecília Meireles




Soluços de Paixão



Amor Em Lágrimas

Ouve o mar que soluça na solidão

Ouve, amor, o mar que soluça

Na mais triste solidão



E ouve, amor, os ventos que voltam

Dos espaços que ninguém sabe
Sobre as ondas se debruçam
E soluçam de paixão



E ouve, amor, no fundo da noite

Como as árvores ao vento
Num lamento se debruçam
E soluçam para o chão



Deixa amor que um corpo sedento

Como as árvores e o vento
No teu corpo se debruce
E soluce de paixão


Vinicius de Moraes