sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Shakespeare


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.


Shakespeare



Shakespeare, século XVI... quinhentos anos a nos separar... não só o tempo, mas o mundo, a própria concepção de mundo, da vida e, consequentemente, do amor...

Então por que, afinal, a história de Romeu e Julieta continua a ser lida, falada, comentada, representada, filmada... por que emociona a todos, por que os adolescentes ficam extasiados quando a leem ou assistem ao filme?

Um passado tão remoto, nada a ver com a atualidade, com a modernidade, com a velocidade com que tudo muda, com que tudo fica, de repente, arcaico... se tudo antes era feito para durar, se não existiam tantos modismos, hoje tudo tornou-se descartável... feito para ser trocado assim que surge um modelo mais novo, com mais recursos que, muitas vezes, são totalmente inúteis e dispensáveis.

O que dizer, então, das pessoas, do amor, das relações? A fila anda e, às vezes, numa velocidade vertiginosa... 
descarta-se o "modelo" antigo assim que apresenta-se alguma dificuldade, algum problema ou, simplesmente, quando cansa-se dele. E, então, é só substituir por um novo. É a superficialidade das relações que não são construídas, amadurecidas...

Nesse contexto, o soneto de Shakespeare soa um tanto perturbador... como assim, amor que é eterno, que não se transforma de hora em hora, que não teme o tempo, que encara a tempestade com bravura? 

Acho que, no fundo é o que todos sonham, querem, desejam para si. Talvez não se queira pagar o preço por algo duradouro, por algo que precisa ser construído, que exige paciência, dedicação, muitas vezes renúncia...mas quem se dispõe a pagar o devido valor terá na mãos uma joia de alto valor, um valor que se afirmará para a eternidade...

Beijos,

Com carinho

Isabel


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