sábado, 13 de fevereiro de 2016

Rifa-se Um Coração


Rifa-se Um Coração

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque 
que insiste em pregar peças
 no seu usuário.

Rifa-se um coração que, na realidade,
está um pouco usado, 
meio calejado,
muito machucado 
e que teima em alimentar
 sonhos e cultivar ilusões.

Um pouco inconsequente, 
que nunca desiste
 de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
 que acha que Tim Maia estava certo 
quando escreveu
"...não quero dinheiro, 
eu quero amor sincero, 
é isso que eu espero...".

Rifa-se um coração 
que nunca aprende.
Que não endurece
 e mantém sempre viva
 a esperança de ser feliz,
 sendo simples e natural.

Um coração insensato 
que comanda o racional. 
Sendo louco o suficiente
 para se apaixonar.
Um furioso suicida 
que vive procurando relações
 e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração tão inocente
 que se mostra sem armaduras 
e deixa louco o seu usuário.

Um coração que,
 quando parar de bater,
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro 
na hora da prestação de contas:

" O Senhor pode conferir.
Eu fiz tudo certo, 
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal 
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer
 e se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, 
ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito
 que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.

Clarice Lispector (?)


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