Transformações
Mais do que nunca, desejo a sabedoria contida nos famosos versos de Clarice Lispector:
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Tenho vivenciado este período como se fosse me tornar borboleta. Só que antes de ser borboleta, é preciso ser larva, com toda a feiúra que lhe cabe. Sempre me encantei com a beleza das borboletas, especialmente depois de conhecer o processo pelo qual elas passam até que estejam maduras o bastante para romperem a crisálida e se mostrarem tão estonteantemente belas.
Durante a fase de crisálida, a lagarta é transformada em
borboleta. Dentro das crisálidas ocorre o seu processo de
crescimento. Esta rápida e brusca mudança é chamada metamorfose.
Quando a transformação está completa, a crisálida se rompe e a
borboleta sai de seu interior. Quando suas asas ficam esticadas e
secas, ela está pronta para voar.
Enquanto larva, busco uma nova lucidez, um novo degrau dentro
do meu coração; e a beleza e prontidão para o voo, no meu caso, têm
a ver com a conquista desta clareza interior, que me revelará uma
nova mulher e, certamente, uma nova escritora, já que escrever está
para mim assim como fazer o mel está para a abelha.
Fazendo uma retrospectiva, novamente me dei conta de algo que
havia notado quando estudei Antroposofia e os preceitos de Rudolf
Steiner: minha vida tem acontecido em setênios.
Na antiga cultura grega costumava-se dividir a vida humana em
dez períodos de sete anos ou setênios. No início do século XX,
Rudolf Steiner retomou essa ideia, que tem larga aplicação nos
estudos biográficos realizados por psicólogos e médicos que
trabalham orientados pela Antroposofia.
No meu livro "Alma Gêmea - Segredos de um Encontro" descrevo
mais detalhadamente essa teoria e como ela se desenrola em nossas
vidas. Mas aqui, agora, o que sei é que aos 7 e aos 14 anos de
idade, minha vida foi marcada por acontecimentos familiares que
influenciariam para sempre meu modo de enxergar as relações
pessoais. Aos 21, além de terminar a faculdade de jornalismo, casei
e engravidei de meu único filho. Aos 28 tornei-me escritora de
fato.
Hoje, prestes a completar o quinto setênio, seja por acaso,
coincidência ou sincronia (os porquês me importam pouco neste
processo), entrego-me à minha sombra e, diante dela, concentro-me
na recriação de minhas asas, mas compreendo que ser larva é
condição indispensável para que eu fique pronta para um novo
voo.
Rosana Braga
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