sábado, 30 de janeiro de 2016

Soneto do Maior Amor


Soneto Do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo

Vinicius de Moraes


O soneto é uma forma poética que exige total domínio da arte de fazer poesia, devido à formato, métrica, rimas, ritmo e sonoridade.  Nosso poetinha Vinicius dominou esta arte como ninguém e nos deixou o legado dos mais maravilhosos sonetos da nossa literatura.

Em "Soneto do maior amor" ele nos apresenta uma forma de amar no mínimo controversa. É um amor paradoxal, estranho, como diz o próprio poema. Seria mesmo amor este sentimento?! Um sentimento enorme, avassalador, que sente prazer nas contradições e, por incrível que pareça, realiza-se com o sofrimento da pessoa amada. Um sentimento com uma exagerada dose de sadismo. 

Imaginamos o amor sempre como um sentimento terno, que se compraz com a felicidade da pessoa amada. Como pode, então, alguém que diz amar, ficar triste quando o outro está feliz e vice-versa? Como pode sentir-se em paz somente quando o amado coração opõe-lhe resistência?

Louco amor este que fere ao tocar e que vibra quando fere. Um amor que é alimentado pelo sofrimento, pela dor. Um amor que pensa apenas em viver aquele momento e todo o prazer que ele lhe propicia, sem planos para o futuro. Que não tem regras, que não tem lei. Um amor que encontra a realização na sua própria existência, apaixonado por si próprio e pela intensa sensação que isto lhe proporciona.

Existe amor assim?! E, se existe, será mesmo amor?!



Um ótimo dia para todos!

Beijos

com carinho

Isabel


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