sexta-feira, 8 de junho de 2012

A Mulher na Música de Chico Buarque


Folhetim

Se acaso me quiseres,
Sou dessas mulheres
Que só dizem "sim!",
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cinema, um botequim.
E, se tiveres renda
Aceito uma prenda,
Qualquer coisa assim,
Como uma pedra falsa,
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim.
E eu te farei as vontades.
Direi meias verdades
Sempre à meia luz.
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis.
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte:
Te afasta de mim,
Pois já não vales nada,
És página virada,
Descartada do meu folhetim.

Chico Buarque


A Mulher Nas Canções de Chico Buarque

A Prostituta

 Folhetim traz novamente o discurso feminino, mas agora de um outra figura de mulher, uma mulher desmistificada, uma mulher marginalizada: a prostituta.

Ela também tem voz em várias músicas de Chico Buarque, apresentando a sua visão de mundo, os seus sonhos, esperanças e frustrações. A prostituta sempre foi e ainda é uma figura "invisível", de uma certa forma. Atua nos bastidores da vida, é uma "clandestina" na sociedade. 

Ver o mundo através do olhar de uma prostituta é difícil até para uma mulher... para mim, confesso, sempre foi difícil ter essa visão. No entanto, ela aparece com toda a sensibilidade que Chico Buarque demonstra ter nas múltiplas facetas com que mostra a figura feminina.

Em Ana de Amsterdam, o eu-lirico descreve a sua vida: "Sou Ana da cama, da cana, fulana, sacana...", descreve alguns sonhos: "Eu cruzei um oceano, na esperança de casar...", para depois cair na realidade: " Hoje sou carta marcada/Hoje sou jogo de azar."

Em Tango de Nancy, composta em parceria com Edu Lobo, ele volta novamente à figura da prostituta, de novo sob o prisma feminino: "Quem sou eu para falar de amor/ Se de tanto me entregar nunca fui minha...".

Em Folhetim temos a mulher que só diz sim e que se entrega por qualquer coisa à toa mas, no final, é ela quem o descarta, quem "dá as cartas": "Pois já não vales nada/ És página virada/Descartada do meu folhetim."

Isabel


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