Folhetim
Se
acaso me quiseres,
Sou dessas mulheres
Que só dizem "sim!",
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cinema, um botequim.
Sou dessas mulheres
Que só dizem "sim!",
Por uma coisa à toa,
Uma noitada boa,
Um cinema, um botequim.
E, se
tiveres renda
Aceito uma prenda,
Qualquer coisa assim,
Como uma pedra falsa,
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim.
Aceito uma prenda,
Qualquer coisa assim,
Como uma pedra falsa,
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim.
E eu te
farei as vontades.
Direi meias verdades
Sempre à meia luz.
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis.
Direi meias verdades
Sempre à meia luz.
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis.
Mas na
manhã seguinte
Não conta até vinte:
Te afasta de mim,
Pois já não vales nada,
És página virada,
Descartada do meu folhetim.
Não conta até vinte:
Te afasta de mim,
Pois já não vales nada,
És página virada,
Descartada do meu folhetim.
Chico
Buarque
A
Mulher Nas Canções de Chico Buarque
A
Prostituta
Folhetim traz novamente o discurso feminino, mas agora de um outra figura de mulher,
uma mulher desmistificada, uma mulher marginalizada: a prostituta.
Ela
também tem voz em várias músicas de Chico Buarque, apresentando a sua visão de
mundo, os seus sonhos, esperanças e frustrações. A prostituta sempre foi e
ainda é uma figura "invisível", de uma certa forma. Atua nos
bastidores da vida, é uma "clandestina" na sociedade.
Ver o
mundo através do olhar de uma prostituta é difícil até para uma mulher... para
mim, confesso, sempre foi difícil ter essa visão. No entanto, ela aparece com
toda a sensibilidade que Chico Buarque demonstra ter nas múltiplas facetas com
que mostra a figura feminina.
Em Ana de Amsterdam,
o eu-lirico descreve a sua vida: "Sou Ana da cama, da cana, fulana,
sacana...", descreve alguns sonhos: "Eu cruzei um oceano, na
esperança de casar...", para depois cair na realidade: " Hoje sou
carta marcada/Hoje sou jogo de azar."
Em Tango
de Nancy, composta em parceria com Edu Lobo, ele volta
novamente à figura da prostituta, de novo sob o prisma feminino: "Quem sou
eu para falar de amor/ Se de tanto me entregar nunca fui minha...".
Em Folhetim temos
a mulher que só diz sim e que se entrega por qualquer coisa à toa mas, no
final, é ela quem o descarta, quem "dá as cartas": "Pois já não
vales nada/ És página virada/Descartada do meu folhetim."
Isabel
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