Soneto
Do Maior Amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
Vinicius de Moraes
O soneto é uma forma poética que
exige total domínio da arte de fazer poesia, devido à formato, métrica, rimas,
ritmo e sonoridade. Nosso poetinha Vinicius dominou esta arte como
ninguém e nos deixou o legado dos mais maravilhosos sonetos da nossa
literatura.
Em "Soneto do maior amor"
ele nos apresenta uma forma de amar no mínimo controversa. É um amor paradoxal,
estranho, como diz o próprio poema. Seria mesmo amor este sentimento?! Um
sentimento enorme, avassalador, que sente prazer nas contradições e, por
incrível que pareça, realiza-se com o sofrimento da pessoa amada. Um sentimento
com uma exagerada dose de sadismo.
Imaginamos o amor sempre como um
sentimento terno, que se compraz com a felicidade da pessoa amada. Como pode,
então, alguém que diz amar, ficar triste quando o outro está feliz e
vice-versa? Como pode sentir-se em paz somente quando o amado coração opõe-lhe
resistência?
Louco amor este que fere ao tocar e
que vibra quando fere. Um amor que é alimentado pelo sofrimento, pela dor. Um
amor que pensa apenas em viver aquele momento e todo o prazer que ele lhe
propicia, sem planos para o futuro. Que não tem regras, que não tem lei. Um
amor que encontra a realização na sua própria existência, apaixonado por si
próprio e pela intensa sensação que isto lhe proporciona.
Existe amor assim?! E, se existe,
será mesmo amor?!
Isabel Menezes
Ai, amiga, que alegria te ver lá na minha relação de "Amigos virtuais".
ResponderExcluirEntão estamos juntas aqui também (rsrsrsrsrs).
Desejo-lhe BOAS-VINDAS!!!!
Bjs.:
Sil