Cada um é
feliz à sua própria maneira
Dizem por aí que toda panela tem a sua tampa, toda meia laranja tem a sua metade e tantas outras metáforas simplesmente para convencer que para todo solitário existe uma solitária à sua procura, ou vice-versa. Alguém que seja extremamente compatível contigo, por mais estranho que você seja. Se você coleciona latas de cerveja ou não toma banho todos os dias ou gosta de assistir filmes húngaros sem legenda, saiba que há um alguém do sexo oposto que, se não estiver fazendo exatamente a mesma coisa, pelo menos ficaria impressionadíssimo em conhecer o louco que faz isso. Coisas de gosto. Vai entender.
A Joelma até poderia ser
classificada como normal se não tivesse um gosto estranho na hora
de escolher os namorados. Apesar de ser chamada de mulherão pelos
pedreiros do bairro, ela curtia mesmo era um feio. Feio não,
horrível. Terrível. Quanto pior, melhor. Ela se realizava em trocar
de namorado sempre que encontrava alguém cuja feiura lhe chamasse
mais a atenção. E como feiura não tem limites, ela pulava de uma
relação para outra assim como uma pipoca dentro de um saquinho no
micro-ondas. As amigas torciam o nariz a cada monstrinho
apresentado. Até tentaram empurrar homens aceitáveis, compatíveis
com a beleza da amiga, mas estes não atraíam Joelma além de poucos
monólogos. Quando a turma toda saía para se divertir, ela era quem
não ficava sozinha por muito tempo. E quando desaparecia, todos
sabiam que estava fazendo algum erro ambulante da evolução muito
feliz. Na contabilidade do amor cego, vesgo e estrábico, Joelma já
pegou caras com nariz maior que a cabeça, de orelhas de abano,
vesgos, banguelas, carecas, gordos ao extremo, magros ao extremo,
extremos ao extremo, os que tinham tudo isso junto e algum defeito
a mais. Enfim, tudo que fosse o oposto ao senso comum de beleza,
era visto à tiracolo grudado na Joelma.
Mas ela era feliz, sabe, daquele
jeito de quem não encontra concorrentes para tomar os seus
namorados. Nunca fora traída. Era paparicada acima do normal por
todos a quem dava moral. Ganhava presentes e mais presentes. Ela
não ligava que o namorado espantasse gatos, cachorros, bebês e
alarmes de carro por onde passasse, que não pudesse aparecer na
hora do jantar sob pena de estragar o apetite de todos. E ninguém
entendia quando ela dizia se realizar sexualmente com um feio, como
se fosse mais que um fetiche, mais que uma tara, uma fantasia, um
tabu.
Eu conheci a Joelminha há três
anos, quando tomava umas Schincariols com a galera do futebol em um
barzinho. Lembro-me bem da data, 24 de fevereiro de 2008, pois foi
o dia em que ela me pediu em casamento. Estamos juntos desde então.
Até hoje não sei se fui eu quem a curou daquela obsessão ou o que
houve. E não quero saber. E tenho raiva de quem sabe.
por JLM
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