quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Olho Minhas Mãos...


Olho Minhas Mãos...

E dizer que estas mãos te conheceram...
Que para elas não guardavas segredos
e a elas tantas vezes te entregaste, 
em confiança como uma criança...

Olho-as, como se fossem as mãos
de um jogador - que tudo ganha e tudo perde -
mãos que tudo tiveram nervosas, aflitas,
e de repente já nada tem, e estão vazias e infinitas
sobre o pano verde...
(Só que em minha roleta, o pano é negro,
da cor dos teus olhos...)

Preocupo-me, amor, neste momento, ao fitá-las:
quanta coisa puderam ter retido...
E penso:
- quem há de, agora, desabotoar atrás
aquele teu vestido?

Estas mãos, que foram guias, cicerones
em viagens maravilhosas
ao redor de nós mesmos -
mãos que inutilmente carrego:
- agora,
mãos insones,
mãos nervosas,
são como guias de um cego.

JG de Araújo Jorge



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