A Mulher de Lata
Mal abria os olhos, já sentia um
estranho formigamento no braço... tentava levantar-se, mas as
juntas não ajudavam, com muito custo e depois de muito esforço e
muito nheec, nheec, conseguia erguer uma perna, depois a outra. E
saía, com suas juntas desconjuntadas, carregando o peso
do seu corpo...
Lembrou-se do Homem de Lata, do
livro “O Mágico de Oz”, de L Frank Baum. No livro,
aliás, um dos seus de cabeceira, O Homem de Lata não era humano e
seu sonho era ganhar um coração. Ela não. Era uma humana que
tornou-se uma mulher de lata, num processo gradual de
inumanização.
Como ocorreu esta passagem?! Seria
possível revertê-la?! E a Mulher de lata continuava no seu
arrastamento do corpo e dos pensamentos. Até eles pareciam-lhe
pesados. Sua vontade era entregar os pontos, desistir, mas sabia
que não podia. Como seria sua vida, presa para sempre em um corpo
de lata?! E ainda um corpo enferrujado, que rangia parecendo porta
de casa mal-assombrada.
Era preciso encontrar a resposta, a
solução, reverter este processo, voltar a ser como antes. Se o
Homem de Lata encontrou a sua resposta, mesmo através de um
feiticeiro fajuto, ela também encontraria. Aliás, já sabia onde
estava a resposta. É, da maneira, como todos, no fundo, sabem. Mas
que têm medo de procurar... a resposta estava lá, na Sala dos
Espelhos, a sala que revelava todos os defeitos, a sala que, como a
Esfinge, desafiava: “Encara-me, ou fique para sempre imerso
na escuridão da sua covardia!”
Era para lá que ela precisava ir...
não dava para esperar mais. Se titubeasse mais um pouco, seria
prisioneira daquele monte de lata barulhento...ah, como ela
gostaria de uma Dorothy para jogar-lhe um pouco de óleo nas juntas,
para fazer-lhe companhia até o seu destino, um lugar que, pra ela
chegar, exigiria muito esforço, muita disciplina, muita
determinação!!!
Mas não tinha Dorothy nenhuma, ou
melhor, a Dorothy seria a sua vontade que a guiaria até a temível
sala, diante da qual todos tremiam!
E assim revestindo-se da sua Dorothy
interior, arrastando suas pernas desengonçadas, a Mulher de Lata
partiu.
Quem ela encontrará no caminho?! Que
aventuras, perigos e dissabores a esperam?! Conseguirá chegar
afinal ao seu destino?!
Boa sorte, Mulher de Lata!!!
Beijos, com carinho
Isabel
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