A Mulher de Lata - parte
II
Caminhante, não há caminho, o
caminho se faz ao caminhar.
(Antonio Machado)
A Mulher de Lata não era uma mulher
qualquer. Culta, inteligente, gostava de ler e conhecia o que de
melhor havia em termos de Literatura. Também tinha um doce
coração... mas, em algum momento, deixou-se automatizar, deixou-se
ir cerceando-se por uma armadura que lhe pesava e que lhe tolhia os
movimentos e que, por isso, tornava ainda mais difícil a sua busca
pela libertação.
Certo – pensou ela – não
sei o caminho, não sei nem se há caminho, mas farei o meu próprio
caminho, irei em busca das respostas....
Fechou a porta com seu movimento
vagaroso de juntas emperradas e saiu. Não sabia o que encontraria
pelo caminho, nem quem encontraria. Talvez um leão medroso que só
rugia, como o que a Dorothy encontrou mas que, no fundo, era um bom
camarada. Ou alguém como o espantalho, simples, mas que escondia
uma grande sabedoria por trás da aparente ignorância.
Sabia que o mais difícil já tinha
feito: dar o primeiro passo, tomar uma decisão.
O começo foi difícil, penoso. Ainda
estava perto de casa. Que vontade de voltar! Todas as juntas
desconjuntadas clamavam por repouso. Mas ela sabia que não poderia
retroceder e deixar-se ficar prisioneira para sempre daquela
armadura que, cada vez mais, a sufocava, a limitava.
E, passo após passo, segue a Mulher
de Lata. Sem importar-se com os olhares, sem importar-se com os
comentários. Só sabia que tinha que seguir em frente.... e
seguia....
Aos poucos, foi percebendo que a
armadura já não rangia tanto.... pesava ainda, é verdade, mas ao
invés daquele incômodo nheec, nheec, agora percebia o canto dos
passarinhos.
À medida que caminhava, sentia-se mais
leve...distraía-se com os pássaros, cumprimentava as pessoas e já
sorria, sem muito constrangimento. Na realidade, às vezes
esquecia-se que tinha se transformado na Mulher de Lata.
E, passo após passo, dia após dia,
avistou, lá longe, o brilho do Palácio dos Espelhos. Tinha,
finalmente, alcançado o seu objetivo! Apertou o passo, sorridente,
e continuou.
Chegando ao palácio, foi convidada a
entrar na tão temível sala, onde, finalmente, encontraria a
resposta que viera buscar. Por um instante pensou em retroceder.
Porque dá medo, sim, encarar o que está no avesso.... encarar a sua
verdade, encarar o que a havia transformado numa engessada Mulher
de Lata.
Fechou os olhos...e depois foi,
lentamente, abrindo-os... e sua surpresa foi enorme! Ela conseguia
ver a si mesma, como era antes. Aliás, mais bonita, mais viçosa,
sem nenhum sinal de armadura! Livre, leve, linda, feliz!!!
Onde tinha ficado a sua armadura?! E
a revelação veio-lhe à mente.... a resposta não estava ali.... a
resposta era o caminho! Enquanto caminhava fora libertando-se
de tudo o que lhe pesava... por isso os seus passos ficaram tão
leves! E só agora ela percebia que a resposta não estava na
resposta, mas na busca!
E eu, não sei por que, me reconheci nesta Mulher de
Lata...
Beijos, com carinho
Isabel
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