Quem é Capitu?
Capitu, uma das personagens
femininas mais famosas da nossa literatura, imortalizada na obra
"Dom Casmurro", de Machado de Assis, até hoje mexe com a imaginação
da leitor, graças à ambiguidade do seu perfil, retratado por
um narrador nada confiável: Bentinho, agora Dom Casmurro, seu
ciumento marido.
No livro "Quem é
Capitu?", organizado por Alberto
Schprejer, temos um painel muito rico, várias
Capitus, vistas de formas completamente diferentes, por vários
escritores, ensaístas e personalidades que encararam o desafio de
mostrar a sua visão desta personagem tão intrigante, tão
fascinante, tão Capitu...
Fernanda Montenegro
apresenta "Uma nação Capitu", onde todas as
brasileiras têm o fascínio, o toque oblíquo, a dissimulação, a
sensualidade do olhar que fascina, que atrai... as olheiras de
ressaca que denunciam uma mulher erotizada, quente, fruto da
miscigenação.... olhar de quem aparentemente é dominada, mas que,
no final é quem domina, num jogo de poder e sedução.
Mary del Priore, em
"Capitu ou a mulher sem qualidades", faz uma
análise da visão sobre a mulher e do papel exercido por ela na
sociedade desde os tempos de Eva, a quem foi atribuída a culpa pela
expulsão do Paraíso, passando pela história da educação feminina,
sempre voltada a transformar a impureza original e a ausência da
consciência moral da mulher em inocência. A autora foca
principalmente a moral vigente na época vivida pelas personagens,
mostrando os papéis esperados pela sociedade tanto para homem quanto
para a mulher. Fugindo do paradigma da época, Bentinho era um homem
fraco, que não cumpriu como devia o seu papel de homem dominador. A
autora conclui que "...se Capitolina não dormia, é porque Bento,
seu marido, adormecia de cansaço."
Lya Luft,
em "Para que saber?" Coloca-se no lugar de
Capitu e, usando-a como narradora, ingressa no seu mundo
particular, nas suas dúvidas, nos seus questionamentos. Uma Capitu
que reflete, uma Capitu insatisfeita, uma Capitu que trai... e que
engravida do seu amante. Sim, senhores, a própria Capitu confessa:
o filho que espera não é de seu marido Bentinho, mas do seu amante
Escobar!
Admirável, surpreendente mesmo é
"A Verdade", ensaio escrito por ninguém menos
que Luís Fernando Veríssimo. Puxa vida, todo mundo
discutindo, Capitu traiu ou não traiu, Ezequiel é filho de Bentinho
ou Escobar... e, surpresa das surpresas... a Verdade, como uma
deusa implacável, traz à tona o segredo, que sempre esteve nas
entrelinhas da história, às vezes dita abertamente, mas que ninguém
viu ou não quis ver, obcecados que estavam com a possível traição
de Capitu...a verdade é que foi Bentinho quem traiu Capitu!
Isso mesmo! Perplexos?! Eu também
fiquei... Bentinho traiu Capitu com... Escobar! E agora preparem-se
para o pior: Bentinho tinha ciúmes de Escobar, não de Capitu. Ao
descobrir, através de um investigador, (o narrador da história),
que Escobar o havia traído com a própria Capitu, ardendo de ciúmes,
foi ao encontro do amante e o interpelou. Escobar, irritado, entra
no mar e... bem... Bentinho o afoga. Um crime passional, que só
agora veio à tona...
Temos ainda a escritora
Lygia Fagundes Telles e a sua tríplice leitura de
Capitu em "Ainda uma vez, Capitu!". Na primeira
leitura da obra, ela fica indignada com Bentinho, o marido
ciumento. Claro que Capitu era inocente e esse Bentinho um
neurótico, louco de guizo! Como ela deve ter sofrido em suas mãos!
Segunda leitura e... espera aí, como não percebi antes?! Capitu,
com a sua dissimulação, também a havia enganado, como fez com o
pobre marido traído... tempos depois, ao escrever o roteiro do
filme "Capitu", baseado no romance, bateu a dúvida... como saber?!
E conclui que "É tudo tão misterioso como aquele mar acima de
qualquer suspeita com suas ondas espumejantes arrebentando nas
pedras."
Bom, amigos, este foi só um
"aperitivo" do livro... são muitos pontos de vista e não dá para
analisar todos. Mas fica a dica... leitura interessantíssima,
instigante, surpreendente... leitura que esclarece e que
confunde...
Beijos,
Com carinho
Isabel
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