Atrás da Porta
Quando olhaste bem nos olhos
meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Chico Buarque
A Mulher na Canção de Chico
Buarque
A Desprezada
Mais uma música do Chico Buarque, onde ele
assume a visão pela perspectiva da mulher, onde o eu-lírico é
feminino.
Nesta composição, ocorre o processo
de aniquilação da mulher, que começa com "os olhos nos olhos", onde
ela percebe que o olhar é de adeus. A partir daí, começa a queda, a
decadência, a humilhação, o rebaixamento, de uma forma metafórica,
lenta e teatral.
No primeiro momento ela o olha nos
olhos - nivelamento. Depois, se agarra em seus cabelos e vai
descendo: em seus pelos, seu pijama, aos seus pés, aos pés da cama.
Nessa etapa, o aviltamento chega ao seu ponto máximo: sem carinho,
sem coberta, no tapete atrás da porta. Passa-se a impressão de um
cachorrinho, de um animalzinho abandonado e carente. É o abandono
total. A partir do instante que ela se agarra aos pés da cama,
nota-se a ausência do ser amado, que a abandonou de uma forma
definitiva.
Começa-se então uma nova fase: a da
vingança, numa nova gradação. Primeiro, ela reclama baixinho,
depois começa a maldizer o lar, a sujar o nome do amado e a
humilhá-lo, numa reação típica de quem ama perdidamente e se vê
abandonado. É uma dor sem limites, que procura um escape, uma fuga,
um alívio, na vingança.
O contrário do amor não é o ódio, é
a indiferença. Todas as ações da mulher desprezada serviam apenas
para chamar a atenção do seu amado, serviam apenas para
mostrar-lhe, de uma maneira enviesada, pelo avesso, que ela
continuava a amá-lo desesperadamente.
A continuação desta história se dá
na música "Olhos nos Olhos", que será o tema do próximo post.
Abaixo, uma sequência de imagens de
Pablo Picasso, que retrata como ninguém, através da decomposição,
da desestruturação, a dor da mulher abandonada e profundamente
ferida.
Beijos,
Isabel
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