"Amor Fora de Hora"
é o nome de um romance de Katarina Mazetti. Li-o faz alguns dias e
ele me levou a refletir sobre qual a possibilidade de um
relacionamento amoroso dá certo entre pessoas completamente
diferentes.
Já no começo da história, o encontro
se dá em um lugar completamente inusitado: um cemitério. Dois
túmulos vizinhos, mas muito diferentes: um tem apenas uma pedra
pequena e sóbria com o nome do falecido. O outro, uma lápide de
mármore branco com inscrições em ouro, anjos, pássaros e até uma
caveira com uma foice. Além disso, sobre o túmulo, há um verdadeiro
jardim, enquanto no outro não há sequer uma rosa.
Dois enlutados recentes: uma mulher
que perdeu o marido em um acidente e um homem que perdeu a mãe. A
primeira impressão que um tem do outro não é das melhores. Ambos
acabam sentando-se no mesmo banco, mas não se sentem à vontade e a
primeira impressão em relação à aparência do outro é totalmente
negativa. Ele a acha uma mulher bege, desbotada, sem atrativos; ela
o vê como um camponês grosseiro, aparência de um lenhador,
com um cheiro estranho e sem dois dedos na mão esquerda...
Um incidente, em um certo dia,
provocou o sorriso de ambos...
"E o sol e morango silvestres,
o
canto dos pássaros
e a água reluzente das lagoas
estavam no sorriso
dele.
Entre eles passou um arco de luz..."
No Dia de Todos os Santos ele foi ao
cemitério e a encontrou saindo de lá. Seguiu-a com uma vela e uma
coroa de flores nas mãos, atravessou metade da cidade sob olhares
curiosos até à biblioteca, onde ela trabalhava. Não teve coragem de
entrar com objetos tão estranhos, mas voltou a procurá-la depois de
alguns dias, e a convidou para irem juntos ao cemitério.
Acabaram almoçando juntos e ele se descobriu apaixonado por ela.
Como era o aniversário de Desirée, a nossa protagonista, ela acabou
ganhando de Benny, o nosso herói, além do almoço, um par de brincos
do Mickey, um sabonete em forma de borboleta, uma meia-calça lilás,
um pôster de um casal apaixonado dentro de uma concha, uma bola
vermelha brilhante, um gorro tão feio quanto o dele e uma gaita.
Presentes que destoavam completamente do gosto dela mas,
estranhamente, ela ficou muito, muito feliz...
Era o início de uma paixão
avassaladora...e da descoberta de mundos completamente
diferentes...enquanto ela morava em um elegante apartamento,
cercada de livros, ele lidava duramente com o dia-a-dia de uma
fazenda, com a ordenha de vacas e morava numa casa antiga, sem o
mínimo conforto...
Como conciliar as duas realidades?!
Quais eram os sonhos e expectativas de cada um em relação a um
companheiro?! Quanto cada um estaria disposto a ceder?! Ou só um
deveria fazer concessões e adaptar-se à vida do outro?! Até que
ponto poderiam negociar e conviver com as diferenças?! Ele
precisava de uma dona de casa, alguém que cozinhasse para ele e que
ainda estivesse disposta ajudá-lo no trabalho da fazenda. Ela
achava que pães davam em árvores.... (Dizem que o amor se
conquista pelo estômago, mas o que fazer se só se sabe lidar com um
abridor de latas?)
Até quando o amor seria capaz de
contornar as diferenças, de aparar as arestas?! Valeria a pena
abandonar sonhos, projetos, modo de vida para viver um grande
amor?! Sim, porque grandes amores não acontecem todos os
dias....
É isso que Desirée e Benny terão que
descobrir e decidir. Assim com Salami e Sulamita, do poema "A Via
Láctea", de Zacharias Topelius, que se amavam, mas que
moravam em estrelas distantes e que, por causa desse enorme amor,
ele teve que construir uma ponte de estrelas pelo universo, eles
terão que encontrar um caminho para unir seus dois mundos tão
antagônicos.
Essa história me fez lembrar de duas
músicas: Eduardo e Mônica (Legião
Urbana) e Catavento e
Girassol (Leila Pinheiro). A letra desta última música fala de duas coisas que giram,
mas uma é movido pelo vento, a outra é movido pelo sol. São
energias diferentes, visões diferentes, realidades
diferentes...
A pergunta é: um grande amor supera
todas as adversidades, todas as diferenças, todos os obstáculos?! É
possível adaptar-se a realidades opostas?! Ou o melhor caminho é
encontrar alguém com quem comunga-se dos mesmos objetivos, que tem
sonhos e modo de ver o mundo parecidos?! Amar é mesmo olharem ambos
na mesma direção?!
Um beijo para todos e uma ótima
semana!!!!
Com carinho
Isabel
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários