Nunca se culpe por ter amado. Por ter confiado. Por
ter ajudado. Nunca se culpe por acreditar na bondade humana, na amizade
verdadeira, no amor eterno. Nunca se culpe por pagar as contas em dia, ser
dedicado ao seu trabalho, honrar seus compromissos. Nunca se culpe por dizer a
verdade construtiva e pregar pequenas mentiras a fim de não magoar as pessoas.
Nunca se culpe por algo que não deu certo apesar de todo empenho empregado.
Nunca se culpe por fazer a coisa certa.
Amou e não foi amado? Paciência. Acreditou que
tinha um amigo de verdade e não tinha? Azar do falso amigo que perdeu o seu
carinho e atenção. Ajudou alguém e recebeu ingratidão? O problema não está com
você com certeza.
Se o outro mentiu, não é você que deve se sentir
magoado. Se o outro foi desleal, não é você que deve se sentir traído. Se o
outro foi ingrato, não é você que deve se sentir tolo. Tolo é quem não consegue
ver a beleza da solidariedade. Tolo é quem acha perda de tempo ajudar as
pessoas. Tolo é quem se acha superior aos outros, autossuficiente. Tolo é quem
ignora o sofrimento alheio. Tolo é que nunca se permitiu acreditar em nada e
deixa a vida passar sem cor, sem odor, sem gosto.
Pode soar como loucura ou poesia barata, mas tolice
é deixar de viver, de amar, de acreditar, de se entregar aos sentimentos,
sensações e desafios da vida. Tolice é deixar de amar por medo de ser
desprezado. Tolice é deixar de fazer uma prova por medo de ser reprovado.
Tolice é deixar de fazer um convite por medo de ouvir um não. Tolice é dizer
que nada muda no mundo por preguiça de arregaçar as mangas.
Sim, estamos no mundo para sofrer por amor, para
sermos enganados por nós mesmos e pelos outros, manipulados, ignorados, mas
também amados, queridos, acolhidos. Estamos no mundo para rir de nós mesmos, da
nossa ingenuidade, dos absurdos que dizemos quando estamos tristes, confusos e
sozinhos.
Estamos no mundo para ganhar e perder. Ganhar
aprendizado perdendo o que julgamos mais querer. Estamos no mundo ao sabor das
intempéries da natureza e precisamos aprender a nadar na marra quando formos
arremessados no mar das incertezas. Viver é não saber. É não entender. É
perdoar ...é se perdoar e seguir em frente. Nunca se culpe por fazer a coisa
certa.
Sílvia Marques
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